domingo, 29 de janeiro de 2012

Pós-parto: Luto e (re) Nascimento

Talvez a primeira consideração a fazer é que a mídia é irreal. Aquela figura de mãe maquiada ao acordar, sempre sorridente, com o bebê dormindo, casa limpa e arrumada, simplesmente não existe!
Uma mulher real em pós-parto só tem olhos para o bebê. Ela acabou de passar por uma mudança extremamente abrupta, que marcará sua vida, sem exageros, para sempre. Ela, muito frequentemente, não assimilou o adeus à barriga, está repleta de hormônios, tem uma nova rotina, um bebê em casa, e, às vezes, um corte no abdômen. Ela está vivendo intensas transformações e experiências, precisa dar conta de tudo sozinha, quase sempre sem ajuda. Sente-se descuidada, sem atenção, o cansaço físico e mental é grande. Ela começa a sentir um desconforto tamanha a dedicação ininterrupta ao seu bebê. A saudade do que um dia foi sua vida bate à porta e junto com ela um sentimento de culpa por sentir-se triste. É tudo tão novo, tão intenso e profundo que as alegrias e angústias se entrelaçam. Tudo é vivido em solidão. Sua alma está exposta e não há nenhuma barreira de proteção. O turbilhão de sentimentos é incompreendido e a sociedade nega a legitimidade dessas emoções. Sentimentos contrários e complementares se conflitam e se confundem. Ao mesmo tempo alegria e tristeza. Força e vulnerabilidade. Plenitude e dor. Agora és mãe, tens que se abrir para um novo mundo. É tudo instantâneo, sem tempo de digestão.Mesmo com toda preparação, é tudo incerto, desconhecido.
 Ora grávida com um barrigão, outrora mãe com bebê no colo.
As emoções estão à flor da pele. O equilíbrio hormonal balançado pelo parto e amamentação inicial se traduz numa tristeza materna, o baby blues, um fato concreto, real, um sentimento legítimo.
Com o parto, a mulher revive o próprio nascimento e se transforma também num ser em nascimento, revivendo o bebê que foi um dia. Isso faz com que ela saiba exatamente o que seu filho precisa: proteção, cuidado, atenção, carinho, colo, calor, amor. Mas a rotina é pesada e a carga emocional também. Muitas vezes a mãe se depara com dificuldades: leite empedrado, produção insuficiente, cólicas, palpites, é muita sobrecarga. E infelizmente há pouquíssimo apoio à essa nova mãe, que enfrenta tudo sozinha.  
Fonte: Google Images
Vive-se um luto, e o luto sempre tem caráter de despedida, e despedir da vida que tinha, da gestação, da barriga, da antiga rotina, não é tarefa fácil. Meses podem se fazer necessários para que isso aconteça. E se o parto não ocorreu como o desejado, talvez a vida não seja tempo suficiente para assimilar tudo. Mas é tempo também de boas-vindas. É um novo recomeço. Tudo vai ficando mais ameno e tranqüilo. O bebê cresce e a rotina de cuidado absoluto vai se transformando em brincadeiras, risos, novidades, e o profundo contato entre mãe e filho se intensifica. A vida vai voltando a ser colorida e divertida, e os encantos de ter um bebê são vistos a todo momento. As dobrinhas enchendo, as roupas ficando pequenas, “puxa vida, que leite poderoso! Eu dou vida ao meu bebê”.
A aceitação do que já foi, o valor de tudo que aconteceu é um processo lento e muito bonito. Aceitar e entender o novo também acontece lentamente e a beleza é ainda maior. O mundo se torna belo quando temos um filho. A vida se torna plena. Com dificuldades e maravilhas seremos sempre um mundo de conforto e confiança para nossos filhos. E eles, serão sempre o nosso mundo.

Um comentário:

  1. Palavras lindas e profundas. Um dia espero conhecer essas sensações tão transformadoras.. Parabéns pelo blog! Abraço, Clarissa

    ResponderExcluir