segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Teoria da Extero-Gestação, Angústia da Separação e Criação com Apego

Os bebês humanos estão entre os mais indefesos de todos os mamíferos. Por causa do maior tamanho do cérebro e do fato de que o tecido nervoso necessita de mais calorias para se manter que qualquer outro, grande parte do alimento ingerido é gasto em prover nutrição e calor para as células nervosas. Mais significante é o fato de que nossos bebês necessitam nascer mais cedo do que deveriam, com seus cérebros ainda não totalmente desenvolvidos. Se o bebê humano nascesse já com o sistema nervoso central amadurecido, sua cabeça não passaria pela pelve estreita da mãe no momento do parto. Ao contrário de outros mamíferos, como girafas e cavalos, o recém-nascido humano é incapaz de andar por um longo período após o nascimento, porque lhe falta o aparato neurológico maduro para tanto. O custo primal de ter um cérebro grande é que nossos filhotes nascem extremamente dependentes e em necessidade constante de cuidado. O crescimento do nosso cérebro após o nascimento é mais rápido do que o de qualquer outro mamífero e segue neste ritmo por 12 meses.
A seleção natural demanda que pais humanos cuidem de seus filhos por um longo período e que os filhos dependam dos pais. Esta necessidade mútua traduz-se em um estado emocional chamado “apego”.
Em algumas culturas, como na tribo Kung, bebês raramente choram por longos períodos e não há sequer uma palavra que signifique “cólica”. As mães carregam os bebês junto ao corpo, com um aparato semelhante a um “sling”, mesmo quando saem para a colheita. A relação mãe-bebê é considerada sacrossanta, eles permanecem juntos o tempo todo. O bebê tem livre acesso ao seio materno e vê o mundo do mesmo ponto de observação que sua mãe.
Nossa cultura ocidental não permite um estilo de vida idêntico ao de tribos primitivas, mas podemos tirar lições valiosas sobre como ajudar nossos bebês na adaptação à vida extra-uterina.
Nos primeiros 3 meses de vida, o bebê humano é tão imaturo que seria benéfico a ele voltar ao útero sempre que a vida aqui fora estivesse difícil.
É preciso compreender o que o bebê tinha à sua disposição antes do nascimento, para saber como reproduzir as condições intrauterinas. O bebê no útero fica apertadinho, na posição fetal, envolvido por uma parede uterina morninha, sendo balançado para frente e para trás a maior parte do tempo. Ele também estava ouvindo constantemente um barulho "shhhh shhhh", mais alto que o de um aspirador de pó (o coração e os intestinos da mãe).
A reprodução das condições do ambiente uterino leva a uma resposta neurológica profunda "o reflexo calmante". Quando aplicados corretamente, os sons e sensações do útero têm um efeito tão poderoso que podem relaxar um bebê no meio de uma crise de choro. 
Entretanto, por volta do oitavo mês, devido à conquista acelerada de autonomia pelo desenvolvimento motor e cognitivo, o bebê começa a perceber que ele e sua mãe já não configuram mais uma unidade, que são indivíduos separados fisicamente. Isso pode causar crises de ansiedade na criança que são bem visíveis durante a noite, quando o bebê volta a acordar de madrugada várias vezes, quando não quer desgrudar de sua mãe, quando recusa o alimento e quer somente peito de mãe, por exemplo. É a chamada Angústia da Separação.
Para atravessar o início dessa fase com mais tranquilidade é importante respeitar ainda mais a criança em suas necessidades básicas de amor, carinho e atenção. Por isso, é bom evitar grandes mudanças na vida familiar para que o bebê não sinta tanta ansiedade. É comum também o bebê reagir negativamente à pessoas estranhas ou mesmos à pessoas distantes do seu cotidiano. Ele sempre busca proteção e age com movimentos de fuga. É sempre importante conversar calmamente com ele e oferecer o apoio e proteção requeridos. O ciclo de sono frequentemente é alterado, e a presença da mãe é ainda mais necessária. Dormir juntinho ou no mesmo quarto, ou mesmo ir até o bebê algumas vezes para acariciá-lo enquanto dorme pode ser uma alternativa positiva. Brincar com o bebê e despender muita atenção a ele é crucial para ele se sentir importante e valorizado. Nessa fase, as tarefas domésticas têm menos importância do que o normal. Manter contato com outros bebês e famílias também ajuda a atravessar os picos com mais calma, pois o bebê se reconhece no outro, sente o calor familiar e ainda mãe e pai pode dividir suas dificuldades e maravilhas da arte de maternar.
É importante entender que essa fase tem picos e declínios de suas características, e pode se estender até os 5 anos. Um dos picos mais claros é aos dois anos, quando a criança se separa psicologicamente da mãe. Seu emocional e afetivo ficam confusos e a necessidade de afirmação é muito evidente, sendo extremamente necessário atender aos seus chamados biológicos e emocionais. Aqui a presença do pai é ainda mais importante, pois ele caracteriza um separador natural e a criança o reconhece como seu forte protetor.
As necessidades de cada bebê são distintas e somente a mãe e o pai para compreender e entender exatamente o que se passa com seu filho. Somente eles poderão oferecer os melhores recursos para aliviar as tensões, os medos, as angústias e a ansiedade do período. Mas independente do bebê, da família, o melhor cuidado é todos é o contato, é o que afirma a criança em seu emocional, é o que reconhece ela como indivíduo, e o que é fornece a ela tudo que ela precisa, a presença e entrega dos pais.
            Essa afirmação consciente das necessidades da criança são contempladas pela Teoria do Apego. De acordo essa teoria, uma forte ligação emocional com os pais durante a infância, também conhecida como apego seguro, é um precursor de relacionamentos seguros e empáticos na idade adulta. O apego é uma necessidade bio-psicológica da criança, e ignorá-lo é desvalorizar o indivíduo em todos os seus aspectos.
Para uma criação com apego basta que os pais sejam pais por inteiro, criando um forte vínculo com seu filho, sendo receptivos e sensíveis com a criança, apresentando uma disponibilidade física e emocional para atender as necessidades da criança. Os pais devem ser criativos nas respostas às necessidades dos seus filhos, refletindo e considerando hipóteses para cada situação.
A Criação com Apego procura entender as necessidades biológicas e psicológicas das crianças e evitar expectativas não realistas sobre o comportamento infantil. Ao estabelecer limites que sejam apropriados para a idade, a Criação com Apego leva em conta todas as etapas físicas e psicológicas do desenvolvimento que a criança está experimentando. Desta forma, os pais podem tentar evitar a frustração que ocorre quando eles esperam coisas que elas não podem fazer ainda.
A Criação com Apego afirma que é vital para a sobrevivência que a criança seja capaz de comunicar suas necessidades aos adultos e que estas sejam tratadas sem demora. Enquanto ela ainda é pequena, é mentalmente incapaz de qualquer manipulação. Durante o primeiro ano de vida, as necessidades e desejos de uma criança são a mesma coisa.
 Os defensores da Criação com Apego entendem que as necessidades não satisfeitas aparecem no curso da vida tentando satisfazer o que não foi satisfeito no seu devido momento. A Criação com Apego observa o desenvolvimento, assim como a biologia da criança, para determinar as respostas psicológicas e biologicamente apropriadas para cada fase dela.

Leia também sobre a Criação com Apego aqui. É um texto da Ligia Moreiras Sena, do blog Cientista que Virou Mãe (recomendadíssimo). Um dos campos de trabalho da Ligia é a neurociência, e este texto fala justamente das relações entre a Criação com Apego e seu viés neurocientífico.

Fonte: maternarconsciente.blogspot.com
Organização do texto: Nitiananda 

Um comentário:

  1. Amei seu texto! Ja havia lido sobre extero gestação mas as colocaçoes foram muito pertinentes e completas, sem essa "coisa", de parecer modismo.Pois essa criação com apego que está na moda agora, nada mais é do que aforma mais natural de se ter cuidado com a criança..
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    Eu fico indignada como o natural passa ser um metodo, so por que as pessoas se esqueceram da sua essencia e do seu instinto mamifero.
    Abraços.

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