sábado, 22 de outubro de 2011

Cama Compartilhada se faz com conCiência e reflexão

Nas conversas com a Talia, minha amiga querida, psicóloga, doula, instrutora de yoga e parto ativo pré e pós parto, a cama compartilhada e seus benefícios sempre estão em pauta e é assunto garantido quando eu falo da minha relação com a Beatriz.

A tranquilidade que a Batriz sente por saber que estamos ao seu lado é nítida e também sentida por mim e pelo Raul quando os reflexos da noite bem dormida surgem como belos sorrisos e conversas contagiantes.

É comum ouvirmos que dormir com os pais é ruim para o desenvolvimento da independência, que é perigoso, pois a criança pode ser sufocada, e ainda que o bebê vai ficar mal acostumado e dependente da cama dos pais. 
Pois bem, eu também já acreditei nisso, mas facilmente percebi o quão vantajoso é para o bebê, para a mãe e o pai e para a relação familiar dormir junto. A cama compartilhada faz sentido para a minha família, e a decisão de praticá-la é fruto de reflexão e consciência. 

Se os praticantes adultos da cama compartilhada não estão sob efeito de drogas químicas e alcoólicas, assim como medicamentos, e mantém com a criança um vínculo de amor e respeito, dormir junto, a família toda, só tem benefícios. Praticar a cama compartilhada é também reconhecer que a criança é sim dependente do contato com seus pais e que sua autonomia e independência são construídos naturalmente com as próprias experiências a partir da afirmaçao emocional e respeito às etapas de seu desenvolvimento.
Mas isso só tem sentido quando a família reflete sobre esta prática. De nada adianta dormir junto se nos demais momentos há desamor, falta de respeito, desunião. Se uma família dorme nos moldes convencionais, cada um na sua cama, conscientemente e mantém durante o dia o apego e contato com sua criança, os benefícios intrínsecos da cama compartilhada também funcionam, porém, dissipados em outras práticas.



O texto abaixo foi gentilmente traduzido pela Talia, e pontua alguns dos benefícios da cama compartilhada.

Artigo publicado no jornal The Times, do Reino Unido, em 14 de maio 2006.

Children ‘should sleep with their parents until they’re five’
Sian Griffiths


Tradução livre por Talia Gevaerd de Souza


As crianças ‘devem dormir com seus pais até os 5 anos de idade’
Sian Griffiths

Margot Sunderland, diretora de educação do ‘Centre for Child Mental Health’ (Centro para Saúde Mental Infantil), de Londres, diz que a prática, conhecida como ‘co-sleeping’ (ou cama compartilhada, em português), contribui para que as crianças tenham maior tendência para se tornarem adultos calmos e saudáveis.

Sunderland, autora de 20 livros, expõe seu conselho em seu livro ‘The Science of Parenting’, a ser lançado este mês.

Ela está tão certa a respeito das descobertas apresentadas em seu novo livro - que é baseado em 800 estudos científicos - que agora está convocando os profissionais da saúde, para informá-los e prepará-los para educar os pais sobre a cama compartilhada.

“Estes estudos devem ser amplamente divulgados aos pais”, diz Sunderland. “Tenho simpatia pelos gurus da educação - por que eles deveriam saber sobre ciência? 90% disto é tão novo, que eles precisam saber agora. Simplesmente não existe nenhum estudo demonstrando que é bom deixar seu filho chorando.”

Ela argumenta que a prática - tão comum na Inglaterra - de treinar crianças para que durmam sozinhas desde as primeiras semanas de vida é prejudicial porque qualquer separação dos pais aumenta o fluxo de hormônios do stress, tais como o cortisol.

Suas descobertas são baseadas em avanços do conhecimento científico ao longo dos últimos 20 anos, a respeito de como o cérebro das crianças se desenvolve, e também em estudos utilizando aparelhos que analisam como elas reagem em circunstâncias específicas.

Por exemplo, um estudo neurológico de 3 anos atrás demonstrou que uma criança separada de um dos pais vivenciava uma atividade cerebral bem similar àquela de alguém com dor física.

Sunderland também acredita que a prática atual está baseada em atitudes sociais que devem ser abandonadas. “Existe um tabu neste país sobre as crianças dormirem com seus pais”, ela diz.

“O que fiz neste livro foi apresentar a ciência. Estudos do mundo todo demonstram que a cama compartilhada, até os 5 anos de idade, é um investimento para a criança. Elas podem sentir ansiedade da separação até os 5 anos de idade ou mais, o que pode afetá-las na vida adulta. A cama compartilhada  pode acalmar esta ansiedade.”

Os sintomas também podem ser físicos. Sunderland aponta um estudo, que descobriu que 70% das mulheres que não receberam colo e atenção quando choravam quando crianças, desenvolveram dificuldades digestivas na vida adulta.

O livro de Sunderland contradiz gurus da educação bem conhecidos, como Gina Ford, cujos conselhos são seguidos por milhares de pessoas.

Ford defende a adoção de  rotinas para dormir  para os bebês desde a mais tenra idade, e em berços ‘longe do resto da casa’. Também ensina como fazer os bebês dormirem ‘sem a ajuda dos adultos’.

Em seu livro ‘The Complete Sleep Guide for Contented Babies and Toddlers’, ela escreve que os pais precisam de tempo para si: “Cama compartilhada... em geral leva os pais a dormirem em quartos separados” e deixa as mães exaustas. Tal situação “traz enorme pressão para a família como um todo”.

Annette Mountford, executiva da Family Links,organização sobre maternidade-paternidade, confirma que a norma na Grã Bretanha é que as crianças sejam estimuladas a dormir em berços e camas, geralmente em quartos separados, desde bem pequenas. “Os pais precisam de espaço”, ela diz. “Definitivamente, existem benefícios em estimular as crianças a terem sua própria rotina para dormir, em seu próprio espaço.”

Sunderland diz que a prática de colocar as crianças em cama própria, já desde as primeiras semanas de vida e mesmo quando choram durante a noite, faz aumentar seus níveis de cortisol.

Estudos com crianças com menos de 5 anos de idade tem demonstrado que mais de 90% delas  tem seus níveis de cortisol elevados quando vão para a creche. Para 75% dessas crianças, o nível de cortisol diminui quando voltam para casa.

O professor Jaak Panksepp, neurocientista na Washington State University, que escreveu um prefácio para o livro, disse que os argumentos de Sunderland são “coerentes e consistentes com a neurociência. Uma sociedade sábia irá levá-los em consideração.”

Sunderland argumenta que deixar as crianças dormirem sozinhas é um fenômeno ocidental que pode aumentar as chances de ocorrência de morte súbita, também conhecida como síndrome de morte súbita infantil (SIDS - em inglês Sudden Infant Death Syndrome). Talvez isto aconteça porque a criança sente falta do efeito calmante na respiração e no funcionamento cardíaco quando está deitada ao lado de sua mãe.

“No Reino Unido, 500 crianças morrem todo ano de morte súbita”, escreve Sunderland. “Na China, onde a cama compartilhada é normal, a morte súbita é tão rara que não tem nem nome.”

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